Pode parecer, à primeira vista, que estamos num lugar do Sudeste Asiático, mas não. Estamos na pequena aldeia piscatória da Carrasqueira, na Comporta, no município de Alcácer do Sal. O cais palafítico da Carrasqueira fica na Reserva Natural do Estuário do Sado e é uma construção verdadeiramente fascinante.

Primeiramente, é importante explicar que este tipo de construção denomina-se de palafita – daí o nome cais palafítico – e é usado em edificações localizadas em regiões alagadiças cuja função é evitar que as casas sejam arrastadas pela corrente dos rios. As palafitas são comuns em todos os continentes, todavia estão mais presentes em áreas tropicais e equatoriais, onde chove muito.

Embora seja frequente vermos este tipo de casas em países asiáticos e africanos, surpreende-nos ver um lugar como este na Europa, especificamente em Portugal. Por isso, não é de estranhar que o cais palafítico atraia tantos curiosos, apaixonados pela fotografia e até observadores de aves.

Este labirinto de plataformas estranhamente equilibradas sobre finas estacas de madeira, que parecem desafiar a gravidade, mas firmes e seguras, foi erguido durante as décadas de 50 e 60 do século XX. O objetivo era que pudessem servir de ancoradouro para os barcos de pesca da região – função que continua a cumprir até hoje.

No estuário do Sado, a maré baixa é muito acentuada e os pescadores sentiam uma enorme dificuldade em transpor o lodo do leito para chegar às águas do rio. Então, como a necessidade aguça o engenho, alguns pescadores tiveram a ideia de construir um passadiço de madeira para ultrapassar esse obstáculo e aceder mais facilmente aos seus barcos. A atividade piscatória ficou facilitada e assim nasceu o cais palafítico da Carrasqueira.

Aqui, começou por se apanhar amêijoas, ostras, lingueirão e outros mariscos. Contudo, à medida que o tempo foi passando, o número de pescadores no cais palafítico foi aumentando, o que fez com que as estruturas de madeira fossem ampliadas até se tornarem no emaranhado de passadiços que são hoje.

Dependendo das marés, os barcos flutuam na água ou ficam atolados na lama, mas os pescadores nunca perdem o acesso às suas embarcações, que era o objetivo principal.

Sobre as estruturas de madeira, encontramos pequenas casas de madeira, que servem de arrecadação, onde os pescadores guardam os seus materiais de trabalho. Estas cabanas dão um ar ainda mais singular a este local, pois estão decoradas com bonecos, inscrições e outros elementos que parecem ligados às superstições das gentes do mar.

Dependendo da hora e do dia, é frequente encontrarmos pescadores no cais palafítico a venderem ostras, amêijoas e outros mariscos a preços muito mais convidativos do que no mercado ou no restaurante. Quando fomos, em agosto de 2022, havia ostras a 5 euros por cada quilo e ameijoas a 7,5 euros.

Além de comprar marisco bom e fresco diretamente de quem o apanhou, ainda pode dar dois dedos de conversa e ficar a conhecer alguns dos homens e mulheres que vivem daquilo que o Sado lhes dá.

Para quem se interessa pela observação de pássaros, este também é um lugar especial, pois neste local encontram-se várias espécies interessantes do estuário do Sado: maçaricos de bico-direito, garças brancas, ibís pretas, corvos marinhos, rolas do mar, gaivotas de cabeça preta e muitos outros.

Se estiver de passagem pela Comporta, vale a pena visitar o cais palafítico da Carrasqueira, um lugar imperdível para descobrir em qualquer época do ano. Aliás, se for ao nascer ou ao pôr do sol, este lugar ainda se torna mais mágico.

É muito fácil chegar até ao cais palafítico da Carrasqueira. O local encontra-se na Carrasqueira, e está a aproximadamente 5 quilómetros da Comporta, a cerca de 10 minutos de carro.

Inserido na Reserva Natural do Estuário do Sado, o melhor será ir de carro até lá. Tanto de Tróia como de Alcácer do Sal, é só seguir em direção à Carrasqueira. Depois, há indicações para o cais palafítico.